Analise da música Pais e filhos

Um dos maiores sucessos da Banda Legião Urbana, o ritmo e o refrão que fala sobre “amar as pessoas como se não houvesse amanhã” faz dessa música uma das preferidas dos fãs de Renato Russo (voz na banda e compositor). Mas, essa melodia alegre e frase bonita do refrão esconde uma verdade sombria sobre a letra.


Estátuas e cofres e paredes pintadas
Ninguém sabe o que aconteceu
Ela se jogou da janela do quinto andar
Nada é fácil de entender

O próprio Renato Russo falou que não entendia como as pessoas gostavam tanto dessa música, uma vez que fala sobre um suicídio de uma garota que não se dava bem com seus pais (isso significa que provavelmente era jovem!). Pois é, muita gente canta se notar isso.
Dorme agora
É só o vento lá fora

Esses versos aparentemente não possuem relação com o trecho anterior, mas há uma lógica sim: a garota está lembrando de sua vida e as conversas que teve com seus pais. O título remete a isso, as frases que os filhos mais ouvem dos pais e vice-versa.

Nessa estrofe, ela está lembrando quando era uma criança pequena e tinha medo do barulho do vento quando ia se deitar.

Vou fugir de casa
Posso dormir aqui
Com vocês?
Estou com medo tive um pesadelo

Continua lembrando da sua infância, perceba que deste lá havia conflito: queria fugir de casa, tinha medo de dormir sozinha…

Só vou voltar depois das três

Aqui começa as lembranças da adolescência, quando saia pras festas e queria voltar de madrugada.

Meu filho vai ter
Nome de santo
Quero o nome mais bonito

Aqui começa as falas dos pais aos filhos. Mostrando como mesmo antes de nascer já começa as preocupações com o nome (detalhe: ainda nem sabia se seria menino ou menina, por se tratar de uma garota que está lembrando é possível notar como a preocupação dos pais com nomes que sejam bonitos vem do início da gravidez.)

É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há

Um conselho que o pai dava à filha, ame hoje porque o amanhã é incerto. É tão verdade que não há amanhã que um dia ela simplesmente se matou, não houve mais dias depois disso.

Me diz por que o céu é azul
Me explica a grande fúria do mundo


Voltando à infância e suas dúvidas, perceba que mesmo quando era menina pequena ela já percebi o mundo como um lugar hostil: “a grande fúria do mundo”.


São meus filhos que tomam conta de mim
Eu moro com a minha mãe
Mais meu pai vem me visitar
Eu moro na rua, não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais
Eu moro com meus pais

Aqui o eu-lírico mostra os vários tipos de relação entre pais e filhos: filhos que cuidam dos pais, pais que cuidam dos filhos já grandes (“moro com a minha mãe mais meu pai vem me visitar), filhos que não tem pai e moram na rua, filhos que vivem mudando de casa (ou os pais mudam muito ou são separados e mantém um regime de guarda compartilhada, o filho muda sempre de casa que nem sabe mais qual é a dele) e filhos normais que moram com seus pais.

Nesse trecho é possível interpretar como ela pensando em sua família e as outras famílias que conhece, sobre famílias em geral.

Sou uma gota d'água
Sou um grão de areia

Aqui a menina percebe que é apenas mais uma entre milhões, não se sente especial.

Você me diz que seus pais não entendem
Mas você não entende seus pais
Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo
São crianças como você

O eu-lírico conversa com a moça (ou ela conversa consigo mesma) e explica que os pais fazem coisas que não são aceitas porque os filhos não entendem ainda e que os pais erram porque não sabem de tudo (são crianças como você) e por isso é um absurdo culpar eles por tudo.

O que você vai ser
Quando você crescer

Termina com uma indagação bem filosófica, afinal “o que você vai ser” engloba mais que uma simples profissão. Que tipo de pessoa você será? Como você vai viver? É uma indagação perturbadora e a depressão dela deve ter vindo de não saber responder isso, de não se achar especial (afinal era é apenas um grão de areia entre milhões de outros), de ser achar solitária (quero colo), de ter medo do mundo (é só o vento lá fora, me explica a grande fúria do mundo), de não se entender e nem aos seus pais.

Enfim, não importa o motivo agora. O fato é que ela achou a vida tão insuportável que era mais fácil se jogar de uma janela do quinto andar que continuar com ela, é uma música sobre depressão e dúvidas, por isso por mais que o ritmo seja animado não é uma música alegre.

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