Kant vs Descartes: os limites da razão
A humanidade sempre preocupou-se em saber como funciona sua racionalidade, como se origina o conhecimento e se existe possibilidade de se alcançar uma verdade a qual se possa chamar de plena e absoluta. Curiosa para saber o que se passava no lado de fora de sua mente, a humanidade criou diversos mecanismo de pensamento para explicar suas indagações. Uma dessas invenções foi a Metafísica.
A Metafísica foi “criada” por Aristóteles, no seu conjunto de livros que tratavam do que estava “além do físico” (significado da palavra Metafísica). Apesar de não ter dado esse nome ao conjunto de seus livros, pois isso foi fruto de catalogações posteriores, Aristóteles cunhou o termo para a análise dos “fenômenos” que ocorrem fora do alcance dos sentidos, fora dos limites empíricos tantos dos seus contemporâneos como dos que o antecederam, no qual o maior destaque foi seu mestre Platão.
Platão é a grande base de toda a Metafísica ocidental, e sua influência amplificou-se ainda mais com a utilização de suas ideias pelo cristianismo, que adaptou-o aos seus credos e crenças e potencializou ainda mais os principais aspectos de sua metafísica, que são: a concepção de que existe um mundo onde habitam as puras ideias, do qual esse é uma canhestra cópia, e que temos que nos preocupar em conhecer esse mundo através da reflexão. Desde então se convencionou dentro da tradição filosófica a ideia de que nossa razão pode alcançar o conhecimento do que está fora do alcance dos sentidos, e ainda fez-nos crer que existem os conceitos que foram formulados de forma puramente especulativa, tais quais divindades (que nos cristianismo se limita somente a Deus), Alma, Mundo, Amor entre outros. Toda a metafísica posterior firmou-se nesse legado, com poucas alterações e/ou reformulações, que no cristianismo adquiriu áurea religiosa e a metafísica passou preocupar-se com as questões do conhecimento dos mistérios da fé (apesar de o correto a dizer seja aceitar os mistérios da fé, sem questionamentos) e também em dizer que todo o conhecimento provém da fé e que nada se conhece se não tiver sujeitado a isso. Contudo, essa metafísica logo encontraria seus opositores.
Dentro da história da Filosofia existiram pensadores relevantes que moldaram toda forma de conceber o mundo e seus fenômenos. Pensadores que se ocuparam com a razão e seu objeto de estudo, o que pode ser apreendido, e compreendido. Esses pensadores buscaram, através da especulação e análise filosófica, delimitar quais são os limites da razão (ou se ela não possui limites). Dentro desse campo de estudo, dois vultosos filósofos obtiveram grande importância para a compreensão da razão e seus limites. Eles foram Rene Descartes e Immanuel Kant.


Mas como resolver então a questão desses conceitos metafísicos? Para Kant a melhor maneira é ignorar, admitir que não conhecemos e que nem podemos conhecer. É o que dentro de seu pensamento é chamado de “antinomia”, onde a razão entre em conflito num problema que ela não pode resolver. Em claras letras: é um conflito onde são apresentados por ambos opositores argumentos puramente especulativos para se alcançar uma comprovação empírica. Simplesmente impossível. É nesse ponto que jaz a crítica da razão kantiana: ela deve conhecer seus próprios limites; ela deve saber que não pode conhecer tudo, de que não pode abarcar todos os conhecimentos de forma objetiva. Os conceitos metafísicos existem sim, mas apenas como idéias, especulações, e conceitos não existem fisicamente. Qual é a flor ausente de todos os jardins? O conceito flor.
Devo posicionar-me ao lado de Kant, pois devemos perceber que nossa razão possui limites, alguns que poderão ser superados e outros inatingíveis, e que mistificar não resolve absolutamente nada. Claro que sou partidário do projeto epistemológico de Kant que acaba no Crítica da Razão Pura, pois tenho lá as minhas ressalvas com seu projeto moral, que consta no seu livro Crítica da Razão Prática. Não devemos nos arvorar de prepotência e acharmos que tudo sabemos, pois diante de algumas perguntas não devemos ter receio algum em responder: não sei.
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